04 novembro 2009

Uma conversa telefónica hoje..

... que podia ter sido há 50 anos.... e pensamentos que desenrolaram à volta desta conversa.

"Dona Joana. Boa tarde. Fui hoje assinar o contracto. Desculpe, não tive oportunidade de passar no seu gabinete para lhe falar. Pode também avisar a senhora na metrópole que já assinei o contracto por favor? Obrigado. Com licença."

Com um Português mais correcto que o meu, com uma postura que me fez lembrar uns tios-avôs especiais e que traz ao de cima aquela emoção tão Portuguesa de saudades, o Sr. A. fez-me sorrir por falar em metrópole, parecia que em vez de estar num compound rodeado de arame farpado em Díli finais de 2009, estava num episódio de uma série ou filme sobre o Portugal das colónias nos anos 50; sinceramente, até demorei uns segundos a realmente compreender o que ele tinha dito.

E sorri novamente quando pensei nos outros senhores em quem agora, ao escrever este post, volto a pensar com memórias marcantes da minha infância - um a ensinar-me a escrever o meu nome e a esconder o meu bolo de anos numa caixa ao colo para que eu não consiga ver o grande bolo de chocolate que me comprou; e o outro com o seu humor particular, nas férias de Natal, a ensinar-me a jogar às damas e a ouvir com muita paciência as histórias desta menina mimada - com mimo do bom!

Na ressaca de uma experiência menos boa e triste com um colega que pensava ser diferente daquilo que afinal se revelou ser, o Sr. A levou-me a pensar como pessoas como ele fazem falta à formação de gerações mais novas, cujas referências por vezes estão um pouco confusas. É pena que a experiência menos boa tenha elevado os meus níveis de cinicismo em relação ao país - embora tenha perfeita noção que à saída as saudades vão ser muitas e que estas apagarão algumas das desilusões criadas; sendo que talvez algumas destas foram, por sua vez, criadas por uma realidade demasiado bruta para o romantismo ingénuo que vinha na mala comigo.

Por outro lado, no meio destes pensamentos confusos (caóticos até) existe um grupo especial no meio da geração mais nova. Com uma boa dose de conhecimento da realidade crua, têm noção das dificuldades e dos óbstaculos mas são dedicados ao país e têm vontade de trabalhar. E têm como referência pessoas como o Sr. A. que para além de mostrar grande dedicação e sentido de responsabilidade em relação ao trabalho que aceitou fazer, mostrou uma delicadeza muito especial com os seus novos colegas. Espero daqui a uns anos ver este grupo especial a servir de referência a gerações mais novas e, qui ça, a outros da mesma geração...

2 comentários:

pedro disse...

:)

Beijocas Janeca!

pedro disse...

O entresonhos voltou à vida!

Beijos