14 julho 2009

O jogo matinal

O dia começa sempre com um jogo para o qual é preciso ter os sentidos todos em alerta, os espelhos do carro acertados e o switch da concentração no ON.

Nível 1:
Sair de casa com ajuda do security da manhã que me diz se posso carregar no acelerador ou não mediante alguma movimentação nos 100m da nossa rua - esta pode ser de táxis (com ou sem música aos altos berros), angunas, carros da policia internacional, carros do governo, motas de qualquer tamanho-formato-estado, bicicletas ou mesmo tiga-rodas que andam a vender modo bem cedinho.

Nível 2:
Entrar na rua do Ministério da Educação já sem o meu backup, tenho de ver como está o cruzamento e se há muitos táxis a querem fazer coisas diferentes ao mesmo tempo, a ocupar o dobro do espaço necessário para aquela manobra. Passado este obstáculo, evitam-se as primeiras motas e os carros a virem da direcção oposta, em contra-mão, não atropelar pessoas a atravessar a rua, e chegada à rotunda da Catedral.

Nível 3:
Rotunda da Catedral - o nível do jogo começa a subir de dificuldade; as prioridades... espera... que prioridades? Quem tem prioridade? O que é que o condutor do veículo que se move já na rotunda entende como as regras da prioridade? A estratégia para ultrapassar este nível é esperar por uma aberta ideal para que sem dúvida alguma possa entrar com segurança no nível seguinte. Atenção às motas e bicicletas e outros veículos que por vezes decidem não dar a volta à rotunda.

Nível 4:
A caminho da "rotunda" do relógio - este nível requer algum conforto em utilizar a buzina, em ter os sentidos todos em alerta e carregar na alavanca da paciência. Ainda antes do cruzamento com semáforos, começam a entrar mais carros, a vir da rua do Bombay Kitchen, e o caos instala-se... carros e motas e outros a entrarem, mikroletes a quererem atravessar para-parar-para-apanharem-passageiros, táxis a 10 à hora a quererem atravessar, motas com 2 adultos e 3 crianças a passarem de um lado para o outro. Respiro fundo. Buzino. Vou metendo o nariz do carro para aqui ou para ali, e finalmente, chego aos semáforos que estão desligados, mas estão lá uns polícias de trânsito que rapidamente assobiam para que o carro se mova lalais-lalais para o outro lado do cruzamento - independentemente de haver muitos mais carros do outro lado ou não. Finalmente, chego à "rotunda do relógio".

Nível 5:
Para entrar na rua da loja-amarela-dos-DVDs há que sair da "rotunda" do relógio e entrar ali à frente do Wasabi, conseguindo evitar as motas que se cruzam à frente, as que cortam as esquinas, as que vêm cheias de crianças e que nem se preocupam com os carros... chega-se aos próximos semáforos, entrada à direita, sempre em frente até aos próximos semáforos sem problema, seguir em frente. Este nível até nem é muito stressante.

Nível 6:
A rua da EDTL está sempre cheia de prendas - carros que estão na 3a faixa não existente que em vez de virarem à direita seguem em frente e tentam que haja uma 3a faixa numa rua que não o permite; táxis que param porque sim, sem sinal, sem espaço, sem pensar nos carros que estão atrás e que é a hora de ponta; os tiga-rodas andam em contra-mão e as bicicletas às vezes também; as mikroletes vão parando e saem sem sinal, sem ver os espelhos como for; os polícias internacionais aceleram porque pensam que podem assim, sem mais nem menos; as motas vão entrando e saindo da EDTL, outras saem dos becos que há ali ao lado da Sílvia... e finalmente tentar estar já na faixa do lado esquerdo, porque vou virar para a rua do MSS; entretanto os que vêm da rua da entrada da Missão, têm todos de virar para a direita deles, nossa esquerda, entretanto os que estão na faixa do lado direito, ao meu lado, é suposto entrarem na rua à nossa frente, mas passar para a faixa do lado direito ao mesmo tempo que os táxis, carros do governo, carros da polícia internacional, carros diplomáticos, carros privados, motas, bicicletas, tiga-rodas e mais outros tantos incluindo camiões, tentam entrar para a rua do nosso lado esquerdo, vindo da faixa do lado esquerdo.

Nível 7:
Finalmente toda a gente amanhou-se e estamos na rua do MSS. Mas... as mikroletes param e arrancam sem ver, a malta das motas, decidindo que há espaço para 2,5 faixas, posicionam-se de uma maneira simpática, zig-zangeando para que na realidade seja só uma faixa. Entretanto há trânsito em contra-mão e a malta da RTL ainda tenta que haja alguma ordem. À frente da DNE - ali ao lado dos "nossos" GeNinhos meto o pisca para a direita e entra-se num processo de negociação com os carros vêm dessa rua. Uns já aprenderam que num cruzamento o carro se deve manter sempre na sua faixa se houver trânsito nas duas direcções, mas este conceito não foi ainda bem socializado. Ao virar o carro depois de definir que se pode avançar, há ainda que ter cuidado com os motoqueiros-kamikaze que gostam de estar em contra-mão, aparecer do nada e isto tudo com pelo menos 3 crianças na mota. Finalmente a última rua.

Nível 8:
Entrada no parque de estacionamento.
Respirar fundo.
Mais um jogo completo. Pontuação máxima, sem penalizações.

4 comentários:

rbeldissima disse...

hihihihi... muito bom.... e com a rua do Tribunal fechada o jogo ganha mais uma vasta gama de graus de dificuldade que teremos que superar.... deviamos começar a fazer o ranking...

joana disse...

Acho que podíamos vender a ideia a uma daquelas empresas que desenvolve jogos de computador. Agora já não se vê porcos na rua, mas ainda há algumas galinhas... e podíamos ter porcos, qualquer dia voltam a andar por aí... E juntávamos níveis de dificuldade - Hoje o caso X está no Tribunal a rua está fechada; Hoje a pessoa Y foi à Catedral, a rua está fechada; Hoje há VIPs no HT, a rua está fechada; Hoje há cerimónia no Palácio a rua está fechada; Hoje estão a meter areia e gravilha nos buracos todos da cidade, só há uma faixa naquela rua...

Joao disse...

Ola Joaninha. Uma pergunta:
Porque nao vais a pé????

pedro disse...

Memories... ! brghhhhh